domingo, 30 de março de 2014

Londres - Sticky Fingers

Segunda vez que fomos ao Sticky Fingers, apesar de a comida não ser lá grande coisa. Por que então repetir um restaurante que não tem nada de mais no cardápio quando há milhares de ótimos restaurantes a serem descobertos na cidade?
Porque nenhum restaurante tem ESTE cardapio:

Sim, pessoal, esta vida de mulher de fanático pelos Rolling Stones me obriga a fazer dessas coisas: já fui com o Fernando atrás de casas onde alguns deles moraram, atrás do estúdio onde eles gravaram e outras coisas mais que ninguém entenderia, só eu, porque só eu vejo a cara de menino feliz que fica estampada no rosto dele o dia inteiro quando fazemos algo assim.
O restaurante pertence ao Bill Wyman, membro da formação original dos Stones, baixista, que saiu da banda nos anos 90. É inteiro decorado com fotos, pôsteres, instrumentos, discos de ouro e outros itens relacionados à história da maior banda de rock de todos os tempos (quem será que roubou o computador para inserir esta frase aqui?!)

A comida é meio de lanchonete (de Hard Rock a Outback) e é gostosa, para quem gosta do estilo.
Comi um hot dog com batatas. Adoro hot dog, é meu lanche favorito, e este estava muito bom.

O Fernando pediu short rib (costela de boi) com purê de batatas)

Na sobremesa, milk shake para os dois, o meu de Oreo e o dele de chocolate com Jack Daniels, para lembrar que o lugar é dedicado a um grupo cujos integrantes são conhecidos por tomar isso e muito mais até no café da manhã. 

Ontem foi dia das mães aqui na Inglaterra, mas quando tem Rolling Stones no nosso roteiro, pela cara do Fernando, é sempre dia das crianças!




sábado, 29 de março de 2014

London - The Greenhouse**

Última parada, de altíssimo nível, no roteiro gastronômico. Ainda temos dois dias de viagem, mas as refeições agora serão bem mais simples. 
        O Greenhouse foi mais uma indicação certeira do amigo Tadeu Masano. O restaurante é lindo e a comida é ao mesmo tempo delicada e marcante. 

         Para começar, de cima para baixo, folhado de couve-flor, macaron de beterraba com recheio de wasabi e uma trouxinha de salmão defumado com caviar. Começamos bem!

Na sequência, baba (o pão de ló, não a de moça) com consommé de pepinos e menta, muito refrescante. No final você fica com um gostinho de Kolynos na boca. 

Minha entrada foi um prato de aspargos verdes com lardo di colonnata e cogumelos. Maravilha!

Para o Fernando, steak tartar com caviar, ostras e molho oriental. 

Nosso prato principal foi um prime rib de carne de Yorkshire (a região, não o cachorro) para dividir.
O maître traz a peça inteira e corta o miolo para nós na mesa.

Enquanto a gente come a parte mais nobre do corte, com uma bola de batata com alho empanada e cogumelos, o maître leva as aparas que ele tirou do osso de volta para a cozinha.

Depois de um tempo, as aparas voltam assim, crocantes, com um mix de verduras e shitake, uma coisa incrível!

Pulamos o queijo desta vez. A transição para a sobremesa foi este prato com abacaxis, um creme bem leve e flores comestíveis. Confesso que ainda não me sinto muito confortável comendo flor, mas abstraio e mando ver. 

Minha sobremesa era de chocolate com caramelo e sorbet de pera. Comi a casquinha de cima com a mão porque era impossível cortá-la sem espatifar o doce todo. 

Para o Fernando, uma sobremesa à base de limão em várias versões.

Mesmo sem pedirmos café, as gourmandises vieram, já no clima de Páscoa com caça aos ovos. 

O restaurante é maravilhoso, o serviço é super eficiente, os garçons simpaticíssimos. A carta de vinhos é uma das melhores da Inglaterra e o Fernando se divertiu escolhendo o que beber, acho que dá para imaginar. 
Ao final do jantar, depois que veio a conta, finalmente descobri o porquê do nome do restaurante. Não se iluda pela fachada arborizada e pelas plantas que cobrem as paredes. O lugar se chama Greenhouse porque você vai deixar muitas verdinhas aqui... 

sexta-feira, 28 de março de 2014

London - Gordon Ramsay ⭐️⭐️⭐️


O Gordon Ramsay é meu restaurante favorito em todo o mundo. Por isso é que no título deste post as estrelinhas são douradas e maiores. Isso mesmo, as estrelas dele são muito melhores que as dos outros restaurantes e pronto!
É a segunda vez que vamos ao restaurante número um dele aqui em Londres. Também já fomos ao Maze de Londres (tem post sobre ele), ao Gordon Ramsay de NY, ao Maze de NY e ao Gordon  Ramsay Stake de Vegas. Sempre adoro, mas este é o melhor, disparado!
Ontem, ainda por cima, voltei aos meus tempos de feminista subversiva e combinei que seria eu a "hostess" da mesa, para poder receber o cardápio com preços. 
E a magia começou com esta canja. Se canja fosse isso mesmo, eu comeria todo dia.
O Fernando, como vocês sabem, come de tudo. Só tem 3 coisas que ele detesta: canja, pipoca e sopa de feijão com macarrão. Desta canja até ele gostou!

Minha entrada era uma beterraba, chamada beterraba de Cheltenham.
O garçom traz o tubérculo à mesa inteiro, na casca, que parece um casulo. Quebra o bicho na sua frente e, em vez de uma borboleta, tira está beterraba linda e cheirosa de dentro dele. Na foto está meio estranha, porque havia pouca luz nas mesas e eu não gosto de usar o flash, mas a cor roxa e viva da beterraba  é show!

Depois, ele leva tudo de volta para a cozinha para a preparação e ela volta assim, com um creme de queijo de cabra, avelãs e um monte de especiarias. É uma delícia!
Quando eu era criança, minha mãe inventava de tudo para me fazer comer frutas, verduras e legumes. Até prometer dinheiro ela prometia e não adiantava. Se ela conhecesse o Gordon, não teria tido esse problema, mas teria ido à falência, certamente. 

O Fernando pediu cauda de lagosta com lardo di colonnata e molho feito com a própria casca da lagosta. Estratégia nº 1 para não me deixar experimentar...

Meu prato foi uma variedade de cortes de porquinho de leite: lombo, linguiça, barriga crocante, pernil. Escolhi o mesmo prato da primeira vez, porque pra mim é simplesmente o melhor. 

O Fernando comeu halibute, um peixe muito apreciado pelos europeus, com king crab e cuscuz marroquino bem aromático, com molho cítrico. Estratégia nº 2 para não me dar nem um tequinho...

Teve queijos antes da sobremesa, claro, mas a gente fica tão abobalhado vendo e comendo tudo lá que às vezes esquece de fotografar. Ups, foi mal!

Na transição para os doces, este drink de manga e maracujá com um iogurte levíssimo por cima.

A sobremesa é a melhor que já comemos no mundo todo: tarte tatin crocante, amanteigada, no ponto perfeito, acompanhada de sorvete de baunilha feito por eles mesmos.
O garçom até me explicou a peregrinação deles para achar a melhor baunilha do mundo. Depois de algumas tentativas, acabaram escolhendo uma baunilha do Tahiti. Disse para ele que percebo que ali existe um monte de detalhes que no final fazem uma  grande diferença. Ele me respondeu com o sotaque britânico nível máximo, um sorrisinho no rosto e um ar solene de quem falava a Rainha: "You're absolutely right, madam!"

Como o Fernando pediu café, lá vieram as gourmandises, que são um show à parte. Estas trufas são de sorvete de morango com chocolate branco e vêm no gelo seco, soltando fumaça.
Além delas, trufas de chocolate e uma gelatina de lichia completaram a seleção.


Percebemos que eles já sabiam que era a nossa segunda vez no restaurante e, inclusive, tinham registro de tudo o que havíamos pedido na primeira.  
Se olharam com atenção depois que fomos embora, notaram que gastamos o mesmo tanto, com uma pequena diferença de 3 libras. Podem ter percebido que nosso orçamento gastronômico permanece o mesmo. Mas não dá pra reclamar, né...

quinta-feira, 27 de março de 2014

Paris - Benoit


O Benoit é um dos bistrôs mais tradicionais de Paris. Fica perto do Hôtel de Ville, que não é um hotel, mas a prefeitura, e a uma pequena caminhada do Louvre ou da Catedral de Notre Dame.
Hoje em dia, ele pertence ao Alain Ducasse, o que é um belo indicativo da qualidade da comida servida.
O restaurante é bem bonito, com aquele estilão antigo, clássico e charmoso que todo mundo tenta imitar no Brasil.

Não pedi entrada. Em se tratando de um restaurante tradicional, porém, o Fernando foi tradicionalmente atrás das lesmas. Ele realmente gosta do gosto de parede que elas têm!

Meu prato foi um filé com molho de vinho e moelle, que é o tutano do osso, o famoso mocotó. Na foto, é aquela coisa que está no alto do prato. Nem experimentei, claro, mas o Fernando comeu a minha parte virando os olhos. 

Para acompanhar a carne, este macarrão gratinado. Isso sim é comida, não aquela geleca. 

Sempre light, o Fernando atacou um cassoulet, que é o carro-chefe do bistrô. Me dei bem nessa: ele roubou mocotó do meu prato, eu roubei feijões do dele.

A sobremesa que fez mais sucesso na mesa foi um Vacherin, um pão-de-ló que ganha graça porque enchem de Armagnac até ficar ensopado (bêbado seria mais exato) e depois comem acompanhado de chantilly.


A minha sobremesa foi este delicioso bolo de chocolate, que não precisa nem de Armagnac e nem de Cognac para ficar bom. Nhac!

Dessa vez o jantar foi marcado para encontrarmos outro casal de amigos franceses, a Nora e o Gérard, na casa de quem estivemos em agosto do ano passado (jantar postado no blog - o dia em que eu aprender, coloco o link aqui). Também tivemos a companhia sempre agradabilíssima da Lu e do Tolovi. 
Aliás, foi do Tolovi a frase que bem definiu esse jantar: "estávamos precisando de comida simples assim!".
Além da comida bem feita, demos muita risada e saímos até mais leves, apesar da comilança. 
Afinal, a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e (fazer) arte!


Paris - Il Vino*


O Il Vino é o restaurante do sommelier Enrico Bernardo, eleito o melhor do mundo alguns anos atrás.
Ele ficou famoso trabalhando no hotel George V, em Paris, e resolveu abrir sua própria casa, perto da Torre Eiffel.
Uma curiosidade, momento Fernando: o George V foi construído pela família proprietária do La Tour D'Argent (estou pagando a conta até hoje!) e é um dos hoteis mais chiques de Paris.
Outra curiosidade: o Enrico Bernardo é super simpático! Na foto abaixo, é ele à esquerda, sentado conosco, batendo um papo.

Fomos ao restaurante com os amigos brasileiros Lu e Tolovi e com os franceses Patrick e Arlette Dumoulin, na casa de quem almoçamos no ano passado em Reims (tem um post sobre isso em algum lugar do passado no blog).
O restaurante tem uma proposta muito divertida. Você não escolhe nem a comida, nem os vinhos. Opta por uma das duas opções: tour pelo mundo ou tour por França e Itália, baseadas na nacionalidade dos vinhos a serem servidos. Quais serão eles e quais pratos os acompanharão, é surpresa!
Meu menu, claro, foi harmonizado com água e suco de laranja, que só fizeram por causa da minha gravidez, porque o negócio aqui é realmente devotado ao vinho.
Os demais optaram por França e Itália. Segundo o Fernando, foi bem difícil adivinhar o que era servido. Eles até que acertaram bastante, mas teve um vinho austríaco que o sommelier enfiou de brincadeira no meio da história que embananou todo mundo. 

Iniciamos os trabalhos com uma mousse de raiz forte com pepinos fria, muito leve.

Depois, uns croquetes de frutos do mar (não comi, óbvio) e um folhado.

Salmão cru para mim, porque o próximo prato do restante da mesa era de crustáceos. Sim, como peixe cru mesmo estando grávida. Duvido que as japonesas façam nove meses de jejum no Japão...

Para os demais, lagostim com um caneloni de guacamole. Todos suspiraram, mas eu sufocaria!

Este peixe era um rouget sob uma cama de vegetais e macarrão oriental. Muito bom.

A massa, um delicioso ravioli recheado de batatas com trufas negras, raladas na hora sem dó (do nosso bolso). 

A carne foi um steak de origem da Bavária, incrivelmente macio, com molho de vinho e aspargos.

Antes de passar para o doce, a tradicional transição francesa: queijo! Só que seguindo as origens do dono, o queijo era um parmesão. Sempre sinto falta dessa inclusão do queijo nas refeições quando volto ao Brasil. 

Já no território dos doces, mas ainda antes da sobremesa, um sorbet de laranja sanguínea maravilhoso!

A sobremesa em si foi esse baba ao rum com frutas cítricas.

No fim, claro, as gourmandises.

O jantar estava ótimo. Os vinhos, segundo todos, eram muito bons. A comida, realmente especial (não é por acaso que o restaurante é estrelado pelo Michelin). Sem falar na alegria dos homens, que pareciam crianças perto do melhor sommelier do mundo. Imagina se fosse a Gisele Bündchen...

terça-feira, 25 de março de 2014

Paris - Le Taillevent**

O Taillevent é uma instituição parisiense, como o La Tour D'Argent. É um restaurante frequentado por artistas, políticos e, claro, gente curiosa como nós.
Ele teve 3 estrelas do Michelin durante um tempão, mas atualmente tem 2 delas.
Uma história curiosa: Salvador Dalí era habitué do restaurante e uma vez apareceu lá para almoçar com uma jaguatirica na coleira! Foi um bafafá. O maître perguntou discretamente se ele pretendia almoçar com o bicho e ele respondeu que sim; era aniversário do pintor e ele queria comemorar com o melhor amigo, seu felino de estimação.
Com o tradicional jogo de cintura de quem comanda esse tipo de restaurante, Dalí e seu gatinho foram acomodados à mesa e o almoço transcorreu normalmente. Depois da refeição, o maître disse ao Dalí que tinha achado o bicho meio entediado. Foi o suficiente para o excêntrico artista entender que, da próxima vez, devia deixar o amiguinho em casa.
Fomos ao restaurante sem jaguatiricas, onças ou tigres: só nós e os amigos Lu e Tolovi, que têm nos acompanhado pelas aventuras gastronômicas desta viagem.
Escolhemos o menu de almoço, harmonizado com vinho para todos menos eu que, com a gravidez, precisei combinar meus pratos com água. 
A surpresa do chef foi esse rolinho crocante (não vou dizer que era um rolinho primavera porque é chutar muito baixo) com lagostins, que pulei para o bem da minha glote (esquecemos de falar da minha alergia antes do início da refeição).


Minha entrada tinha aspargos brancos com creme levemente trufado. 

A do Fernando, obviamente, tinha foie gras! Raviolis recheados com o fígado dos pobres patinhos, que ele devorou sem dó!

Pedimos o mesmo prato: gigot d'agneau com vegetais. Ponto perfeito, macio, uma maravilha o cordeirinho.

Antes da sobremesa, queijo, é claro! Chèvre com uma torradinha de tapenade e salada por cima. Achei um pouco forte e não consegui comer tudo, mas era muito saboroso. 

Nossa sobremesa também foi igual: chocolate em várias versões, com noisette.

Para finalizar, café e gourmandises. Essas gourmandises são um abuso! Depois de uma refeição mais que completa, inclusive com sobremesa, eles trazem mais um monte de doce para acompanhar o que devia ser um simples cafezinho digestivo. Eu não tomo o café, mas como as gourmandises para não fazer desfeita, né...

Na saída do restaurante, tirei uma importante dúvida com o maître. Na área reservada aos banheiros havia três portas e cada uma ostentava uma letra: D, H, T. As duas primeiras significavam Dames e Hommes, respectivamente, por óbvio, mas e o T?? 
Como a curiosidade matou o gato e provavelmente a jaguatirica, perguntei o que era o T. O maître, já dando risada, me perguntou o que eu achava que era. Claro que não respondi as gracinhas que havíamos feito à mesa minutos antes, depois que eu voltei do banheiro e contei a novidade ("travec", sTaff...). Fiz uma cara séria e dei a resposta mais sensata que pude encontrar: TOUS (todos). 
Ele riu ainda mais e falou: "vamos abrir a porta e você vai descobrir".
Sentindo a ansiedade que só quem participou do programa Porta da Esperança pode descrever, fomos até lá e ele a abriu............................................
Do outro lado, numa sala minúscula, sobre uma mesinha, havia um TELEFONE!!!
Aí quem começou a rir fui eu e, sem me segurar, falei: "desculpa ter perguntado, mas sabe como é, la modernité..."
A maioria dos restaurantes não aceita nem um gatinho na mala e o Taillevent já aceitava jaguatiricas no século passado. Vai saber... Os caras são vanguarda!