quinta-feira, 24 de julho de 2014

São Paulo - Um D.O.M. para João

E foi assim, num brinde na sala, já de pijama, que surgiu a ideia de celebrarmos a chegada do nosso bebê, marcada para amanhã! Esperamos ele dar o ar da graça por conta própria, mas nove meses e quase 4kg depois, ele continua irredutível no propósito de permanecer dentro da minha barriga. Amanhã então acaba a folga dele e, por tabela, a nossa. 
Para fechar esse ciclo de vida boa e abrirmos o de vida loka, ontem ligamos no D.O.M. às 20h, fizemos a reserva, tiramos o pijama em 5 minutos e às 20h32 adentramos, triunfantes, a porta de um dos melhores restaurantes do mundo.


Chegamos ao restaurante e logo fomos recebidos pela Gabriela Monteleone, sommelière do local que, além de saber tudo de vinho e harmonização, é uma fofa! Foi ela quem sugeriu o levíssimo e surpreendente menu vegetal.

Eis o primeiro prato do menu e você, caro leitor, pode estar pensando o que diabos dois pedaços de carne crua estariam fazendo numa seleção de pratos vegetarianos. Nada disso! Era melancia com ervas, alga e pepino, num caldinho suavemente salgado. Impossível descrever o frescor que invadia a nossa boca a cada mordida. 

Em seguida veio essa panelinha com feijão manteiguinha por baixo, farofa por cima e um purê de couve que tinha gosto de feijoada. Que combinação!

E no Brasil, se tem feijão, tem que ter arroz! O prato seguinte era uma crosta de arroz frito, com cogumelos, agrião e um creme de salsinha. E eu, que não sou lá muito chegada em salada, comi esse agrião picadinho sorrindo.

Pausa para o momento "No Limite" do jantar. Formiga saúva pura, com gosto de capim limão (na parte de cima da foto) e formiga saúva acompanhada de abacaxi. O Fernando adorou e fez cara de quem comeria mais um formigueiro todo. Eu comi sem mastigar muito, confesso, mas comi. E você, assustado leitor, que tinha ficado chocado com a primeira foto deste post, em que eu, grávida, segurava uma taça de vinho, hein? Sabe de nada, inocente... :-)

Continuamos o menu porque nem só de formiga vive o homem. Esse "macarrão" de palmito pupunha com farofa de pipoca nos fez rever conceitos. Eu, que não sou grande apreciadora de macarrão, e o Fernando, que não gosta de pipoca (mas gosta de saúva, lesma e outras coisas mais, vai entender?!), amamos o prato!

O prato principal era uma verdadeira obra de arte! Abóbora e outros vegetais assados, flores, ervas e até uma raiz de cebolinha bem crocante formavam esse prato lindo e saborosíssimo.

A transição para a sobremesa foi feita com ele: o inigualável, o inimitável, o insuperável ALIGOT!!! Não se deixe enganar pela simplicidade da composição: purê de batatas com dois tipos de queijos. O preparo minucioso e o capricho na hora de servir fazem desse aligot o prato imperdível do cardápio, uma das assinaturas do Alex Atala.  

Como sobremesa, seguindo a toada do menu cheio de surpresas, mandioquinha, chantilly feito com mel de jataí e raspas de chocolate brasileiro. E pensar que o mais perto de comer mandioca como sobremesa que eu já tinha chegado era colocando açúcar cristal na mandioca cozida. Belo upgrade... ;-)

O tom de despedida do jantar me fez olhar para o passado e refletir sobre o que já vivi e aprendi, principalmente com meus avós, que infelizmente não estarão fisicamente recepcionando o mais novo membro da família. O macarrão de pupunha me lembrou a vó Carmen, que tinha que fazer arroz e frango frito para mim no domingo, porque eu não comia macarrão. A farofa de pipoca me fez voltar no tempo e lembrar de quando o vô Pavão me levava para ver o desfile de Sete de Setembro e deixava eu comer pipoca doce, salgada, paçoca e o que mais tivesse no carrinho do pipoqueiro. A raiz de cebolinha frita me fez reviver a vez que fui à horta do vô João e, em vez de colher as cebolinhas que ele havia me pedido, arranquei tudo pela raiz. Não levei nem bronca, ele só riu. Por fim, à panelinha de feijão manteiguinha e farinha eu só acrescentaria o tempero mineiro do virado de feijão da vó Anésia.
Ainda mais forte do que o tom de despedida, este jantar no D.O.M. teve gosto de boas vindas e de celebração do DOM da vida. Saudamos a chegada de DOM João, nosso príncipe herdeiro. Que venha saudável e com muita fome!

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